Funicular: opção complementar para a mobilidade em Florianópolis

Notícias 28/07/2014

Os caminhos para enfrentar a péssima mobilidade na Capital precisam ser debatidos de forma coletiva e envolver a Região Metropolitana. Não é o que vem acontecendo. Com o anúncio, no final de 2013, da implantação de um teleférico em Florianópolis, a Câmara de Vereadores, por solicitação do mandato do vereador Lino Peres, realizou, no dia 22 de maio, Audiência Pública sobre o teleférico e o Sistema Intermodal para Florianópolis e região metropolitana. Os resultados da Audiência foram entregues pelo vereador a representantes do governo federal e da CEF que estiveram na cerimônia de assinatura do contrato de implantação do Anel Viário para o Corredor de Transporte Coletivo e Teleférico do Programa “Mobilidade Médias Cidades”, do Ministério das Cidades, ocorrida no Centro de Eventos de Florianópolis. A questão é se o elevado investimento no teleférico vai beneficiar a população, especialmente a do Maciço do Morro da Cruz, e se há alternativas mais eficientes. Uma delas pode ser o modal funicular (elevador inclinado).

Este modal tem enorme possibilidade de se concretizar em área íngreme, populosa e principalmente de baixa renda no Maciço do Morro da Cruz. Ele pode ser associado a projeto integrado com outras demandas sociais e urbanas nessa e em várias regiões de Florianópolis, principalmente em áreas de inclinação acima de 50% (26,5 graus), onde vivem moradores que há décadas têm enormes dificuldades de locomoção cotidiana, principalmente para a população idosa, gestantes e pessoas com deficiência que ficam praticamente enclausuradas em suas casas. Soma-se a isto a enorme energia gasta no transporte de materiais para a construção de casas, de mudanças e de compras que são feitas em locais de comércio, de modo geral distantes das residências.

Há que se reconhecer que graças à implantação de ônibus nos morros da capital, principalmente na parte insular central, no governo de Sérgio Grando, entre os anos de 1993 a 1996, a mobilidade nos morros foi facilitada. Mas, de lá para cá, poucas iniciativas efetivas foram providenciadas, apesar da implantação das obras do PAC. Avançou-se, ainda que com sérias deficiências e atrasos, em obras de saneamento, drenagem e sistema viário, o qual deu mais capilaridade na mobilidade veicular, que permite a passagem do ônibus que atravessa o Maciço, como a linha Transcaieira e outras.

Morro da Cruz e as dificuldades de acesso

O sistema de funiculares, ou elevadores ou planos inclinados, uma proposta apresentada no final da gestão Dário Berger e não levada adiante, é efetivamente um dos melhores sistemas de acessibilidade entre os morros e a cidade, tanto do ponto de vista de seu alcance social e urbano, como pelo seu baixo custo de implantação e manutenção.

As 35 mil pessoas que moram no Maciço do Morro da Cruz merecem a implantação imediata de pelo menos 10 funiculares em seus pontos mais íngremes e também em outras regiões como o Maciço da Costeira, Saco Grande, a região do Alto Pantanal e demais morros na parte insular e continental, como o Morro da Caixa e outros.  É uma dívida já histórica que deve ser atendida com urgência.

Teleférico: alto custo e baixa demanda

O teleférico que a prefeitura municipal quer implantar, de acordo com estudos já feitos pelo professor Werner Kraus Jr., da UFSC, e de outras pesquisas, é antieconômico e terá baixa cobertura para as populações do Maciço do Morro da Cruz, atingindo apenas a população do Alto da Caieira, que perfaz menos de 4% da população do Maciço, próxima à estação que se quer construir em um terreno, inclusive, que é a única área verde de lazer de que esta comunidade dispõe.

Mesmo com a proposta de ser um sistema veicular de passagem pelo Maciço do Morro da Cruz, objetivando absorver a demanda da população da UFSC de acesso à porção continental de Florianópolis e parte da população da Bacia do Itacorubi, este modal não dará conta, porque hoje já existe transporte que contorna o Maciço e ainda a linha de ônibus Transcaieira, que serve boa parte desta demanda. Com o planejado sistema de corredor de ônibus em torno do Maciço do Morro da Cruz, toda a demanda de usuários será atendida por este corredor, não necessitando do teleférico para esta finalidade. Com isso, este modal ficará ocioso e dará enorme custo de manutenção para a municipalidade, podendo se transformar em um “elefante branco” em pouco tempo.

Faltam estudos

Em um rápido cálculo comparativo de custo entre o teleférico e o funicular, estima-se que é possível construir cerca de 150 funiculares em diversos morros de Florianópolis com o mesmo custo do teleférico (R$ 150 milhões previstos). Se fossem construídos 10 funiculares com cerca de 200 metros de extensão e quatro estações de parada cada um, ao custo estimado de R$ 1 milhão por funicular, o total seria de R$ 10 milhões, menos de 10% do custo total do teleférico, que terá apenas uma estação (no Alto da Caieira) entre o ponto de chegada e de partida.

É de se estranhar e lamentar, portanto, que a prefeitura de Florianópolis tenha escolhido o modal teleférico e assinado o contrato para a obra sem antes ter feito estudos comparativos com outros modais e sem estudo de origem-destino. A prefeitura tampouco aguardou o estudo que vem sendo feito pelo Projeto PLAMUS, contratado pelo governo do Estado de Santa Catarina, que abrange inclusive a região metropolitana.

Isto demonstra a falta de integração entre a prefeitura de Florianópolis, o governo estadual e os municípios vizinhos, incompetência técnica e fragmentação institucional no processo de planejamento. Florianópolis, com isso, reproduz o isolamento das suas ações municipais, com ausência de um projeto de mobilidade metropolitano, considerando que não é possível um sistema de transporte apenas municipal, como foi o recente processo licitatório aprovado por 20 anos sem debate amplo com a sociedade e implantado de forma monopólica.   

Vale lembrar que, em 2011, a então gestão de Dário Berger, em seu já mencionado projeto para o funicular, divulgou que o custo dos projetos, obras e equipamentos seria de R$ 5.200.000,00. A notícia dizia o seguinte: “A iniciativa tem o objetivo de atender diretamente mais de 200 famílias que não possuem acesso de veículos e indiretamente mais de 5.600 famílias moradoras do Maciço. A linha terá um trajeto de 270 metros de extensão com quatro estações. A capacidade será para 6 passageiros mais um compartimento de carga. O trajeto deverá ser percorrido e apenas 4,5 minutos. Após a conclusão o sistema será operado pela Secretaria de Transportes”. Leia a notícia em http://portal.pmf.sc.gov.br/noticias/index.php?pagina=notpagina¬i=3503

Funicular: opção viável

É por estas razões e outras de ordem social e econômica que Lino Peres, como professor pesquisador do tema da mobilidade urbana, coordenador do grupo de pesquisa GEMURB/UFSC e como vereador, tendo como um dos eixos do mandato a mobilidade sustentável, defende a opção modal do funicular como melhor opção de alcance social para as populações que vivem em regiões muito íngremes ou em morros, tanto em Florianópolis como em outras cidades brasileiras.

Nesse sentido, conversamos com o engenheiro mecânico Roberto Nardi e seu filho, o estudante de engenharia mecânica na UFRGS Mário Barbalho Nardi, que planejaram e construíram um protótipo de funicular em uma residência no Sul da Ilha. O modelo utiliza corrente contínua de baterias que, ligadas a aparelhos especiais, alimentam os motores elétricos, que são motores comuns, com freio, e transferem a potência para redutores que, através de engrenagens, movimentam a cabine. Para um modelo com fluxo de pessoas maior (caso dos funiculares do Maciço), a diferença ficaria por conta da alimentação dos motores, que seria da rede normal e não por baterias, e também a potência dos motores, que seria maior.

Enfatizamos que o funicular não é um transporte de massa, ele é complementar ao sistema troncal e atende necessidades locais e urgentes. Fará toda a diferença para os moradores do Maciço do Morro da Cruz, por exemplo, e de outros locais. O objetivo é mostrar uma alternativa ao teleférico, e não para transporte de massa. Em relação aos objetivos do teleférico, o funicular é uma alternativa melhor nos locais apontados no texto. Mesmo o sistema de corredor exclusivo de ônibus, que a prefeitura propõe, substitui o teleférico em relação à demanda (mas esse corredor não resolve o problema local dos moradores do Maciço, de acessibilidade, que precisam subir e descer escadas íngremes diariamente).

Vídeos

Os dois vídeos abaixo mostram o protótipo para que a população da Capital conheça essa proposta e possa de fato participar e ser ouvida no debate sobre a mobilidade na Capital.

https://www.youtube.com/watch?v=VXFSY-MyjBo

https://www.youtube.com/watch?v=uE-u0v9dBjU

Veja o estudo do professor Werner Kraus Jr. sobre o teleférico em:

https://www.dropbox.com/s/pu4q3twodyvw1gf/avaliacaoProjetoTeleferico_.pdf


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