Monumento homenageia na Câmara a resistência e a luta pela Anistia em SC
O encontro de três gerações de homens e mulheres que lutaram pela volta da democracia marcou, dia 30 de outubro, a inauguração do Monumento ao Nunca Mais na Câmara Municipal de Florianópolis, iniciativa da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça e da Comissão da Verdade da Câmara por indicação de seu presidente, o vereador Lino Peres.
Em sua fala, Derlei Catarina de Luca, integrante da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV) e do Coletivo Catarinense pela Memória, Verdade e Justiça, fez o registro do encontro das três gerações, a de 1964 (início da Ditadura Civil-Militar), de 68 (ano do Ato Institucional nº 5) e de 1979, quando ocorreu a Novembrada (30 de novembro).
O Monumento foi instalado na fachada da Câmara Municipal de Florianópolis, na rampa de acesso ao Plenário, e integra o projeto “Trilhas da Anistia – Marcas de Caravanas e Recontes de Histórias”, uma parceria da Comissão de Anistia no âmbito do Projeto Marcas da Memória e a ONG Agência Livre para a Informação, Cidadania e Educação (ALICE). Florianópolis é a oitava de dez cidades indicadas a receber o Monumento.
Para não esquecer
Em seu discurso, o vereador Lino Peres assinalou que o Monumento ao Nunca Mais ergue-se em nome de todos aqueles e aquelas militantes que lutaram pela justiça, contra a exploração dos trabalhadores, por uma sociedade igualitária e contra toda forma de opressão que assolou nosso país a partir de 1964. “Esse monumento ergue-se em nome de perguntas que persistem e que não podemos calar, em nome daqueles que desapareceram sob a Ditadura Civil-Militar e que, até hoje, mães, pais, maridos, esposas e filhos buscam”.
Lino disse ainda que a sociedade não pode permitir que aqueles que mataram ou torturaram sob o regime militar sigam impunes, até mesmo hoje se manifestando publicamente para justificar seus atos ou afirmar que só obedeceram ordens. “Assim há muito a avançar, como a revisão da Lei da Anistia, que nasceu de forma restrita e amordaçada”. O vereador finalizou sua fala destacando que o povo de Florianópolis, catarinense e brasileiro não pode naturalizar o esquecimento, o medo ou o desinteresse cúmplice, em nome da dor que persiste em todos aqueles que lutaram porque quiseram ver o país sem injustiça, sem fome, sem exploração, livre e para todos.
O conselheiro de Anistia do Ministério da Justiça, Prudente José Silveira Mello, representando no Ato Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia e Secretário Nacional de Justiça, destacou a necessidade de se resgatar a memória da repressão e das lutas populares contra atos lesivos aos direitos humanos praticados no período da Ditadura Militar. “Nesse sentido o Monumento é um legado que fica para a Capital catarinense”.
A Ministra Ideli Salvatti, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, lembrou que em novembro são lembrados os 35 anos da Novembrada, Ato histórico que, em Florianópolis, marcou a reação popular à ditadura. A Ministra saudou a Câmara de Vereadores pela iniciativa e destacou a necessidade de os direitos humanos serem colocados na ordem do dia, porque o direito à dignidade e à igualdade de condições ainda é uma batalha cotidiana.
A inauguração foi dedicada principalmente aos militantes convidados e presentes com seus familiares. Também estiveram presentes o presidente em exercício da Câmara Municipal de Florianópolis, vereador Tiago Silva, a artista plástica Cristina Pozzobon (autora artística do Monumento), o arquiteto Tiago Balem (registro técnico da obra), membros da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de Florianópolis, como os vereadores Afrânio Boppré e Celso Sandrini, assim como o presidente do PT municipal, Carlos Eduardo Souza (Cadu) e o chefe de gabinete do mandato do Padre Pedro Baldissera, Murilo Silva.
AI-5 na academia
Na inauguração do Monumento também foi lançado em Florianópolis o livro “AI-5 na academia: o Manual do Lead usado pelos golpistas de 1964 para punir o ensino de Jornalismo”, de autoria da jornalista Roseméri Laurindo, com selo da Editora da FURB (EdiFurb). A autora, que é Coordenadora do Curso de Jornalismo da Universidade Regional de Blumenau (FURB), revela, pela primeira vez em livro, como o Decreto 477 do Governo Militar Brasileiro (o AI-5 da Academia) foi usado para a demissão sumária, sem direito à defesa ou benefícios trabalhistas, do catedrático José Marques de Melo da Escola de Comunicação da USP, em 1974.
Em seu discurso, Roseméri assinalou que, para contar esses fatos, o livro mesclou Política, Memória, Jornalismo e Universidade. Ela ressaltou a oportunidade da data do lançamento do livro, uma vez que no dia 31 de outubro de 1975 foi realizada a missa de sétimo dia pela morte do também jornalista Vladimir Herzog e que foi a primeira grande manifestação de protesto da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar.
O vereador Lino Peres, como professor universitário, destacou a importância de ser contada a história que envolveu o professor Marques de Melo, porque, também no ambiente do livre pensar como o da Universidade, o autoritarismo muitas vezes ronda, contando com cúmplices para se manifestar e também para calar.